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Vinicius Aguiari - 24 anos - Jornalista
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::  quarta-feira, maio 17, 2006  ::

"A história mais vibrante desde O Cachorrinho riu de Arthuro Bandini"
Rolling Stone Magazine

"Você assistiu Meu primeiro amor, o filme? pois esqueça, este é o maior retrato do amor infantil"
Washington Post


"Nick Hornby voltou até os treze anos em Alta Fidelidade? Aqui o autor lembrou até de sua lancheira"
Uncut Magazine


"He is not a musician, but must will be"
NME

"Pulsante e bem escrtio, mas juvenil. Vamos ver quando completar a mairoridade"
Folha do Interior


cheiraqui apresenta:

O mini Fábio Assunção do ginásio


Eu posso me lembrar como se fosse hoje, porque todas às vezes são iguais. Ela se sentava duas carteiras a minha frente, na segunda fila à direita. Era uma distância imensurável. Todas as vezes que olhava para o quadro negro, antes olhava para seus cabelos. Somente pensava em como devia ser legal ficar de mão dada com ela durante o intervalo. Dividir o mesmo lanche e lhe contar algumas piadas para lhe fazer sorrir. Mas ela não andava com cara algum. Não conversava com ninguém. Acho que não possuía nenhum amigo do sexo oposto, e meu Deus, como eu sofria com o seu silêncio.

Toda vez que seu pai não vinha a buscar após a aula com aquela Caravan, eu ia caminhando atrás dela. Cerca de uns 20 metros distante, com minha lancheira na cintura, há uma distância suficiente para parecer que não a seguia. Mas podia admirá-la. Eu nunca conversei com ela. Assim deve ter sido até a quarta-série quando eu já estava apaixonado por outra garota, de pele clara e cabelos encaracolados escuros. Como eu a amava, e ela, também me amava. Nós nunca conversávamos, mas ela foi meu primeiro beijo, e eu já achava o suficiente para colocar a mão em suas nádegas, como os caras da sexta-série faziam. Eu sempre fui um pouco abusado, mas acho que elas sempre gostaram. Todas às vezes são iguais, mas às vezes é difícil recordar. Aquela foi a primeira vez. Eu estava na pré-escola e depois daquilo, nunca mais foi do mesmo jeito.

Diversas outras vezes vieram. O amor da sexta, da sétima-série. Na sétima como foi ótimo. Duas me amavam. Eu era o mini-Fábio Assunção do ginásio. Eu amava as duas de maneira igual, não podia escolher entre uma e outra. Eu seria injusto. Eu era incapaz de fazer isto. No final, as duas me deixaram ao mesmo tempo, por um outro único cara. Meu Deus, como eu sofri! Será que elas não podiam imaginar?

Mas passou, então foi a vez das pós primeiro grau. Estenderam-se por anos. Também em duplas. A primeira, uma amiga que se apaixonou por mim. Eu era somente seu amigo, nunca havia imaginado ser nada mais do que isto. Eu resisti por um bom tempo. Foi estranho a primeira vez que nos beijamos. Ela abusava da liberdade da nossa amizade. Me provocava, me agredia verbalmente, e às vezes, eu devolvia fisicamente. Certa vez, em uma destas viagens colegiais para lugar nenhum, onde o mais divertido é estar dentro do ônibus, ela passou grande tempo dizendo em voz alta, no fundo do ônibus que eu era viado.

Permaneci escutando, quieto, sentado na poltrona do corredor. Então, em certo momento, ela passou ao meu lado e eu abaixei-lhe seu shorts. Era um destes shorts com elástico na cintura que cobria até a metade das cochas. Desceu o suficiente para mostrar uma parte de suas nádegas e sua calcinha. Na verdade foi lindo. Um de meus amigos, o Júnior, me disse que se masturbou várias vezes por aquilo. Acho que o ônibus inteiro o fez. Ela me odiou por muito tempo por isto.

Entre a gente era assim, pesado. Ela me dava socos na boca e eu enfiava dedos em seus olhos. Era mais raiva juvenil do que romance. Por isto, eu me recusava a ficar com ela. Por puro orgulho. Até o dia em que o dia em que eu desisti de ser rancoroso e ceder. Ai então, como sempre acontece, foi ela quem não quis mais.

A última da minha fase juvenil talvez tenha sido a pior de todas. O maior dos meus platonismos. Apaixonei-me logo a primeira vez que a vi. Era meu primeiro ano naquele colégio. Ela acabava de se mudar. Não sabia distinguir se ela era nova na cidade, ou se somente não a conhecia. Ele vinha de uma família classe média que podia ser considerada elite naquela escola estadual, porém nunca negava um prato de sopa ou arroz temperado na hora do intervalo. Estava sempre na fila da merenda. Eu sempre tentava ficar ao seu lado, do lado oposto da mesa onde as refeições eram servidas. Você sabe como as coisas funcionam nas instituições de ensino não superior, meninos de um lado, meninas do outro.

Toda sexta feira, no final da tarde, ela passava em frente à loja de tecidos da minha tia. Às vezes ia até o bazar, às vezes subia um pouco mais, até a padaria. Eu trabalhava de office-boy no escritório de contabilidade do meu primo nos fundos, mas às sextas-feiras, sempre ia para a frente da loja e ficava lá, sentado, esperando ela passar em sua bicicleta. Ela não tinha de coragem de me olhar, então só eu a fitava e me divertia.

Era bastante recatada, morria de medo do seu pai, e este era o grande problema. Certa vez, em um domingo, após a missa – ela não era católica, mas fazia companhia para as amigas que disfarçavam ser – nós nos encontramos. Iríamos trocar alguns beijos embaixo de uma árvore. Eu encostei-me na árvore e deixei que ela viesse ao meu encontro. Eu sempre fazia isto, ficava lá a disposição delas, me oferecendo aos seus gostos. Somente não quando elas tentavam fugir, então eu as colocava contra o tronco. Ela me abraçou, suas mãos se encontraram com a pele do arbusto. A árvore era velha e nela existia um formigueiro, destas formigas grandes que cortam a pele onde ferroam. Não eram saúvas, eram mais selvagens. A formiga pegou seu dedo. Mas ela não me contou, pois ao mesmo tempo seu pai passou na rua perpendicular a nossa, na esquina de baixo. Ele possuía uma caminhonete de barulho inconfundível. Ela me deixou lá, sozinho e saiu correndo. Fiquei lá, plantado, como a própria árvore. Só depois de muito tempo, ela me disse que a formiga havia pego o seu dedo, que ele havia ficado muito inchado e que ela precisou contar uma desculpa esfarrapada para sua mãe.

Depois disto, decidi também que não perderia mais meu tempo com estas infantilidades. Eu devia ter uns catorze anos. Tantas garotas sedentas para eu passar as mãos em seus peitos, apertar suas bundas, esfregar seus corpos contra o meu, e eu iria perder meu tempo com uma garota que fugia ao ouvir barulho de carros?

E assim se arrastou por anos. Até se tornar um caso de ensino médio. Então ela havia crescido, estava se tornando uma bela mulher, com belas pernas, cabelos castanhos compridos, peitos redondos, e de caso com um namoradinho de outra cidade. E você acha que isto foi algum empecilho? Nenhum. Bastou um telefonema para que estivesse tudo terminado entre eles e eu fosse novamente o dono do pedaço. Reatamos de maneira mais séria. Às vezes eu passava em sua casa, às vezes ela me ligava, queria saber onde eu sairia. Para o tamanho dos descasos que eu já havia feito, isto era profundamente um relacionamento. Éramos um casal, e nossos melhores amigos, o meu, e a dela, também eram um casal, que nos apoiavam ainda mais em sermos um casal. Mas de qualquer forma eu estava pouco me importando para aquilo, até que um dia a notícia veio. Eu já contei que o pai dela era um gerente bancário. É verdade. Vocês sabem o que faz um gerente bancário? Ele chega a uma cidade, fica amigo de todo mundo, conquista novos clientes e quando ele está envolvido a ponto de fazer parte daquilo, daquele lugar, ele precisa ir embora, pois ele controla o dinheiro do banco, e dinheiro e amigos são coisas que não se misturam. Somente dão certo nos casos mais sérios e duradouros, aquelas amizades que são mais do que verdadeiros casamentos, porque casamentos acabam, mas aqueles dois amigos apanharam juntos todas as surras que esta vida a eles achou necessário aplicar, saíram juntos na chuva em dias frios sem um puto no bolso, estiveram juntos enquanto seus pais se separavam, dormiram juntos bêbados enquanto cachorros lambiam seus rostos, e permaneceram juntos.

Então ela se foi, eles se mudaram. Achei legal no primeiro mês, aquilo estava me sufocando. Eu queria estar na rua com meus amigos, colocando fogo em latões de lixo durante a noite, tomando vinho e voltando para casa bêbado. E foi legal durante o segundo, e o terceiro também. Até que um dia, depois de uns seis meses, ela voltou, e eu havia descoberto a falta que ela me fazia. Que estava apaixonado, e que ela era a mulher da minha vida. Nós éramos tão parecidos, nossos sonhos eram os mesmos, nossas mães torciam por aquilo e tudo deveria ser perfeito. Mas era tarde.

Passei anos ligando para sua casa, no final das tardes de sábado, quando chegava em casa bêbado e emotivo, depois de passar a tarde no bar com os amigos, assistindo partidas de truco, sinuca e escutando samba que os caras do bar tocavam. Ela também sofreu muito. Odiava a profissão do pai e sua vida nômade. Odiava a sua educação formal e suas imposições. Odiava o fato de se mudar para algum lugar, fazer amigos, construir algo e quando passar a ser aceita, chegar a hora de ir embora. Acabou, baixem a lona, o circo está de partida. Mas era isto, estava feito, nós estávamos no fundo. Eu morava em um buraco, e ela, no fim do mundo com o nome de Mato Grosso.

 

:: Vinicius Aguiari, - 8:57 PM [+] ::

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