::Cheiraqui::
Vinicius Aguiari - 24 anos - Jornalista
Flickr
email



Blogs

Alex Castro (LLL)
Andrea Del Fuego
Barbara Blanky
Bruno Saia
Carol Mazetto
Cecilia França
Cecilia Gianetti
Fabrício Carpinejar
Ilsson Siriani
Joca R. Terron
Marcelo Taz
Márcio Américo
Mário Bortolotto
Paula Cantieri
Sergio Faria
Thomas Texano
Xico Sá

Sonoros
All Music
Bizz
Coquetel Molotov
Discofonia
Dying Days
Gordurama
Grave
Ilustrada no pop
Jotabê Medeiros
Kid Vinil
Lúcio Ribeiro
Mojo Books
NME
Peligro
Revoluttion
Rock Press
Rraurl
Senhor F
Trabalho Sujo

Outros
C. J. Tognolli
Cocadaboa
Digestivo Cultural
Gui Tosetto Fotoblog
Leila Lopes Fotoblog
Pílula pop
Porta Curtas
Portal Literal
Roteiros on-line
Scream&Yell
Super sexies
Trip


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

::  domingo, julho 09, 2006  ::


O fotografo nos abordou e perguntou se podia nos fotografar. Ok, sem problemas, concordamos, enquanto assistíamos à partida de futebol nas numeradas do estádio.

“Vocês estão na cidade a passeio?”
“Não, estamos procurando trabalho. Sabe? Mas nada muito sério, somos da mesma área que você”.
“Entendi”

E ele se foi com nossa imagem captada.

Na manhã seguinte, a foto estava lá, na parte inferior da capa do jornal, a nossa imagem em três colunas centrais, eu e minha amiga, com a seguinte legenda:
“Eles vieram à cidade a procura de trabalho, mas estão vivendo a passeio. Enquanto a idade adulta não bate-lhes a porta, eles se divertem e sorriem, nas numeradas do estádio, como se assistissem uma final de copa do mundo ganha na mesa de um bar”.

E aquilo chamou a atenção. Não havia reportagem alguma. Era somente a foto legenda colorida na primeira página do jornal. Mas todos se identificaram conosco, se sentiram realizados com o nosso estilo de vida, com nosso descompromisso, a nossa empatia, nossos sorrisos e a forma como encarávamos os fatos. Todos gostariam de ser jovens como nós, de gozar o sabor daquela alegria e celebrar o nada.

Mas além de tudo isto, a nossa fotografia levava consigo uma melancolia, como se aquele jogo fosse o último, uma espécie de despedida de solteiro da vagabundagem, e então depois a vida se tornaria algo concreto e tudo deixaria de ser como era antes. O sorriso, a empatia, a elegância. Vide ao fracasso de camisas de botões apertados e paletós alinhados. Acossado, meu romance bandido, eu não quero envelhecer. Era isto que aquela imagem significava, a recordação de uma juventude desperdiçada e a certeza de uma idade adulta mal vivida, e era por isto que todos se sentiam tão tocados.

Recortei a foto e coloquei no bolso. Levei para a casa e mostrei para minha família em uma reunião de domingo. Eu e minha amiga na primeira página do jornal, e ainda por exótico que pareça, por um motivo alegre. Todos ficaram admirados. Nós estávamos nos tornando conhecidos. A fotografia estava aparecendo em outros veículos, alguns disseram que a viram até em destes programas idiotas de TV. Nossos sorrisos se tornaram tão conhecidos como o da moça da caixa de palito de dentes. Éramos celebridades anônimas, o feliz casal das numeradas do estádio, o casal de amigos mais feliz do mundo, e eu não sei se aquilo era um romance ou uma amizade.

Então não demorou muito para que a indústria publicitária se apoderasse de nosso signo da forma mais voraz. Estamparam nossos rostos nas tampas das cartelas de iogurte infantil. Nunca fizeram contato algum conosco, era como se aquela imagem tivesse se tornado de domínio público, como o Che Guevara fotografado por Alberto Korda e reproduzido em massa ao redor do mundo. Talvez o fotografo tenha até ganho algum dinheiro, porém nós, nunca recebemos centavo algum por ter nossos rostos estampados nas embalagens de danone.
 

:: Vinicius Aguiari, - 7:51 PM [+] ::

logo