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::  domingo, junho 25, 2006  ::

Seriguelas Alucinadas

Era uma tarde daquelas, típicas do clima do interior do estado. As quatro e meia o sol estava tão a pino que nós ainda possuíamos a tarde toda pela frente para nossa diversão. Nós suávamos em nossas bicicletas e não existia compromisso algum. Isto devia ser em 1994, no meu terceiro ano colegial. Nesta época, eu acordava todo dia bem cedo para ir o colégio, precisava estudar para passar no maldito vestibular. Quanto mais cedo saísse daquele inferno, melhor seria. No período da tarde, sempre fazia as tarefas e revisava as aulas dadas. Uma rotina lobotomizante.

Para não entrar em colapso, todo final de tarde, saia à rua para encontrar alguns amigos e ter noticias das garotas, e nestas tardes quentes, a melhor opção era o piscina do clube. Lá era bem mais tranqüilo, sempre existiam algumas cocotas mais abusadas, destas que inventam brincadeiras aquáticas, como aquele velho afogamento com o único pretexto para um bom e excitante esfregamento de corpos juvenis em trajes de banho. Esfregamentos que sempre eram descarregados depois, através de uma boa punheta no chuveiro de casa. Como eram gostosas aquelas punhetas após voltar da piscina do clube.

Neste dia fomos em três: eu, o Bosta e o Zolhos. O sol olhava quente por nós. Calango nenhum se atrevia em atravessar o asfalto em chamas da rodovia. Em nossos bolsos, nós tínhamos um bom tanto de mato, destes que em dias quentes, colam ainda mais nas palmas das mãos, e cheiram, haaa... como cheiram, e são verdes, de um verde tão mágico que traduz todo o colorido.

O clube ficava nos fundos da cidade. A frente existia uma escola, como se aquilo fosse o limite urbano, o muro daquele mundo. Depois dele, pouco faria sentido, eram os sítios e eles eram bem melhores. Nós estávamos no terreno de baixo dos fundos da escola, onde havia um majestoso pé de seriguela. Era lá que iríamos fumar nosso baseado antes de aliviarmos nossos corpos daquele calor escaldante. Subimos os três na árvore e começamos a chupar algumas seriguelas. O Bosta começou a esfarelar o fumo. Aquela maconha parecia boa. Em seguida, enrolou um belo baseado em um guardanapo de mesa de bar. Nós poderíamos ter fumado uma única ponta, ou um fino que já seria o suficiente para tornar o nosso mergulho mais divertido, porém fizemos questão de enrolar algo do tamanho do dedo do meio da mão de um forte pedreiro baiano.

Começamos a queimar. A fumaça que se levantou provavelmente levou aquela brisa forte em meio ao tempo quente e seco por um longo espaço. Talvez boa parte daquela escola tenha sentido o cheiro de nossa maconha. Com certeza, nós ficaríamos altos. As seriguelas serviam agora para que atacássemos uns aos outros:

- Acorda Zolhos, está viajando?
- O loco Zolhos, hahaaahaaahhaaaaa....
- Pêra ai Bosta, pega leve, acho que escutei algum barulho.
- Barulho, vish, você está louco! Não tem ninguém por aqui. Estamos tranqüilos.
- Sei lá, eu estou dizendo.
- Desencana então, vamos nesta para a piscina que você já cortou minha loucura!
E lá descemos os três patetas com todas as caras engraçadas do Bozo aparecendo no televisor craniano enfumaçado de nossas cabeças, enquanto despencávamos barranco abaixo.

Não havíamos absorvidos ainda nem o primeiro estágio daquele longo baseado quando entramos na passarela que levava até piscinas. Éramos três soldados sem fardas, em shorts de banho e óculos escuros. O Bosta estava à vontade, o Zolhos tentava ser contido, e eu, tentava ser normal enquanto ria daquilo tudo. Não havia como ser disfarçável. Falávamos pouco e ríamos muito. O Zolhos tentava amenizar cochichando “Pega leve, olha a velha da piscina, ela já está nos olhando” - e o Bosta devolvia - “A Angelina, hoje vou matar esta velha afogada, aposto que ela nem sabe nadar, ahahaha”. Quando chegamos a velha responsável pelas carteirinhas foi direta:

- Os três estão bêbados, vocês estavam bebendo lá em baixo?
- Que bêbado o que Angelina? Você está viajando, a gente está tudo de boa, deixa a gente entrar nesta piscina – devolveu o Bosta molemente.
- Não vou barrar ninguém, se vocês estão malucos, problemas sãos seus, só não vão aprontar na piscina.
- Quem está maluco Angelina? a gente está tudo normal... Você sabe o que a gente estava fazendo?

O Bosta era um destes maconheiros boca dura, complexado, rebelde e briguento, às vezes se ele ficasse quieto, as coisas poderiam ser bem menos complicadas.

Entramos nos vestiários, tomamos nossas duchas, o primeiro refresco para aquelas mentes ardendo em fogo canabinóico e estávamos prontos para a longa travessia dos vestiários até as piscinas.

A piscina não estava cheia. Naquele tarde, poucos desocupados dedicaram seu tempo livre ao prazer molhado. Mas havia uma presença perturbadora em meio àquele oceano de cloro. Era a mãe de um de nossos conhecidos. Ela era uma bela senhora, na flor de seus quarenta anos, cabelos longos, uma bela bunda, quadril acentuado e seios fartos. Ela já me incomodava em situações normais, como na fila do banco. O que seria daquilo? Aquela balzaquiana mergulhada naquelas águas com aquele biquíni rose? E se eu tivesse uma ereção? Como sairia daquilo? O que faria com o volume dentro do meu shorts? Turbilhões de pensamentos vinham a minha mente. Imaginava seus seios redondos, como devem estar seus pelos molhados? Será que a água estaria fria? Odeio água fria. Maldito baseado. Nós já chegamos todos loucos e agora mal conseguíamos articular uma palavra um com o outro. Era como se tivéssemos fumados o mais puro haxixe vagabundo paraguaio.

Continuei caminhando em direção a piscina. O Bosta foi o primeiro a mergulhar, era um ótimo nadador. O Zolhos foi em seguida. Comecei a correr e elaborar meu mergulho. Muito de uma tarde em uma piscina talvez seja resolvido no primeiro salto. Este é o momento em que todas as garotas vão desviar seus olhares para você, por isto, o local precisa ser o adequado, a profundidade precisa e o tempo no ar, exato. Tudo para o traçado daquele vôo de cabeça em direção ao chão de concreto ser o mais elegante possível. Uma questão de estilo. Comecei a dar os primeiros passos correndo para pegar impulso. Levei as mãos ao rosto e retirei os óculos que escondiam os olhos vermelhos, e voei. Não sei se mergulhei como um pingüim imperador ou como um marreco, mas logo percebi que algo estava errado. Havia algo de errado com o chão. O que era aquilo que tentava me fazer flutuar. Eu não sentia meus pés tocarem o solo. Merda, impossível, não podia ser verdade, eu não podia acreditar que estava dentro da piscina com as minhas havaianas. Nada poderia ser mais desesperador. Era como ter cagado nas calças no primeiro dia de aula do jardim de infância. O que aquela mulher pensaria de mim? Será que ela irá dizer “Olhem lá, aquele idiota tentando fazer de suas havaianas pés de pato”. Então tentei me recompor. Recoloquei os óculos escuros. Somados àquele cloro, nossos olhos seriam dignos de verdadeiras hemorragias. As evidências não podiam ser por completas. Fui caminhando até a margem da piscina, com minhas sandálias agarradas por meus dedos. Não podia nadar daquele jeito. Não ali. Cheguei à borda e discretamente coloquei as sandálias para fora da piscina e elas ficaram ali, próximas à água. Voltei minha concentração para a piscina e para aquela mulher, como ela me perturbava, devia estar há uns 15 metros distante de mim, mas eu podia senti-la. E se em um ímpeto inexplicável eu decidisse me aproximar e quisesse tocá-la? Chegar nela e dizer: “Hey mulher! você me quis, agora estou aqui!”. Passar a mão pelos seus seios, sua bunda, suas cochas, enfiar meus dedos em sua vagina molhada? Droga, a maldita ereção, contenha-se, não imagine, acalme-se, pense na água, sinta a água dentro do seu shorts, e relaxe.

O Bosta e o Zolhos também estavam perdidos naquele lago quadriculado. Eles mergulhavam, nadavam submersos, e depois voltavam e rachavam o bico, davam muita risada, como dois pingüins em um número de circo. Eu comecei a sentir as ondas daquela piscina. Aquelas pequenas marolas que se formavam e estouravam contra o meu peito. Elas me agrediam. Não demorou muito para que elas adquirissem um aspecto sonoro dentro do meu cérebro. Elas cresciam dentro dos meus ouvidos, vinham de longe e arrebentavam nos meus tímpanos em uma maré crescente. Zum, zuum, zuuum, zuuuum, zuuuuum, piiiiiiimmmm, explodiam. Aquilo não estava me fazendo bem, era cíclico, quando o último piiiimmm acabava, o primeiro zum retornava. Aquela senhora notaria meu comportamento estranho, nós precisávamos sair dali, mas como se parecíamos golfinhos desorientados pelas vibrações de um sonar megalomaníaco de um navio pesqueiro?

Então os caras do final do expediente começaram a chegar. Eles sempre se reuniam depois do trabalho para uma partida de biribol, aquela espécie de vôlei dentro d´água, e nós três sabíamos jogar aquilo. Era o que precisávamos para fugir daquela piscina. O Bosta foi para o time adversário e eu e o Zolhos ficamos no mesmo. Quatro jogadores de cada lado. Os outros caras já tinham notado que estávamos altos. No primeiro saque o Bosta jogou a bola para fora da piscina, uma estupidez. Os caras do expediente reclamaram com ele. Eu e o Zolhos rimos. Ele perguntou se nenhum deles nunca errava. Percebi que as coisas poderiam ficar tensas por ali. Nós não estávamos na totalidade de nossas capacidades esportivas, mas tudo bem, afinal qual é o grande mal de não se fazer uma boa partida?

Tentei me concentrar no jogo, mas por melhor, ainda não havia sido acionado na partida. Era tudo muito rápido. Receba, passe, levante, corte ou devolva. Vá! Pegue! Caralho!!! Caiu, ponto. Então ela veio a mim, a grande bola, era a primeira. Veio fácil, praticamente de graça do outro lado. Eu olhei-a no alto e a vi como o próprio sol, aquela bola amarela de biribol. Planejei a melhor das minhas recepções, o grande toque que a repassaria redonda para o homem em minha diagonal na rede, o início de uma grande jogada. Era estratégico. É assim que as coisas funcionam no biribol, os homens de trás recebem a bola, passam para o homem em sua diagonal na rede levantar para o corte do outro atacante, desenhando um 7 entre os integrantes do time. Levantei meus braços e abri meus dedos. Seria um belo toque, estava tudo calculado. Mas não foi. Aquela maldita bola passou por entre minhas mãos e explodiu no meu peito, e de lá para o chão de água. Era mais um ponto perdido. “O que é isto, vocês estão loucos?”. “Lógico, você não está vendo” seria o mais sensato a responder, mas nós ríamos. O Bosta quase se afogava do outro lado, e o Zolhos me olhava de lado e desacreditava de tudo aquilo. E lá estávamos nós, três maconheiros acabando com a partida de biribol dos trabalhadores no final do expediente. Se eles pudessem, nos esganariam, nos afogariam e nem se dariam ao trabalho de avisar ao IML sobre nossos corpos.

Desta forma, os pontos foram rápidos. Logo o set estava acabado e nós expulsos do jogo.

- Vou esperar aqui fora para o próximo, também sou sócio - reclamava o Bosta.
Por mim, estava tudo bem, havíamos saído daquele campo de execução esportista. Já era tarde, estávamos muito famintos, então eu e Zolhos decidimos por ir embora. Levamos o Bosta junto.
- Até mais velha da piscina, amanhã nós voltamos.
- Criem juízo seus retardados.
- Retardados? hahahahaa...vamos nesta.

Passamos pela padaria, fizemos um belo lanche de pão com mortadela e tubaínas. Forramos nossos estômagos famintos e laricados.

Se existe algo realmente prazeroso a se fazer depois de um dia de piscina é aquela velha punheta. Imaginem agora esta velha punheta acrescida de um bom baseado. Todas aquelas sensações projetadas e imaginadas dentro de uma mente fértil se transferindo para um corpo sensível, estimulado pelo aumento do fluxo da corrente sanguínea. Peguei minha bicicleta e fui voando para casa. Eu e aquela mulher tínhamos muito a resolver entre os azulejos do meu banheiro. Aquele seria um banho demorado. Aquela gostosa sentiria o siginificado do meu prazer indo pelo ralo.
 

:: Vinicius Aguiari, - 9:15 PM [+] ::

::  quarta-feira, junho 21, 2006  ::

Futebol não devia ser empurrado com a barriga

Segura a onda ai Gordo, sem dar o ré no quibe, porque o bicho tá pegando!Amanhã tem jogo da seleção contra o Japão e se o futebol, a vir a ser apresentado, for tão ruim quanto o dos jogos anteriores, que a seleção vá jogar no Kasaquistão, pois esta copa está sendo um saco; pelo menos pelos jogos do Brasil.

Em nenhum das duas partidas anteriores houve entusiasmo em ficar bêbado, falar alto ou vibrar, devido aquele futebol burocrático. Nenhuma meia lua, chapéuzinho, firula ou caneta para a gente sorrir por dentro e dizer “Isto sim é um brasileiro! Ai ó, todo fodido, feio, magrelo (agora gordo) e tirando sarro de um gringo travado”. Esta não seria a graça da copa? Mostrar pro mundo todo a ginga, o jeitinho brasileiro? Que aqui, apesar de tudo ser todo mundo pobre, analfabeto, desdentado, todo mundo é feliz? e bobo.

Mas não, o que nos importa é o resultado, mais uma estrela na camisa. Montamos uma seleção de pragmáticos. Nada de espetáculo, agora nos queremos ser eficientes e sofisticados como no primeiro mundo. Os magrelos se tornaram robustos e os robustos se tornaram gordos. Alguém olhe pelos dentes e estomâgos de nossos moleques recém cevados. É supremacia da força em relação à arte e ao talento.

E não existe ali, espaço algum para qualquer espécie de mau caráter, mulherengo ou vagabundo, como se no Brasil, somente existisse a espécie "bom moço". Traduzindo em bom português, é um grupo formado por um monte de viados. Há de se lembrar que o Garrincha, o Romário, o Viola, o Edmundo, o Edílson e o Júnior Baiano (para ficar por cima) também foram a alguma copa e isto não foi há muito tempo atrás. Nestas horas, bate uma inveja de argentino, pois na seleção deles tem um monte de cabeludos; doidos que jogam no sistema do dente por dente e que em caso de derrota, esquecerão do sentido da palavra compostura e vão baixar o sarrafo. Fora o Maradona na arquibancada, um outro espetáculo a parte. Se um dia eu for a uma copa, vou a torcer pela seleção da argentina.

Por isto eu digo: resultado o caramba! O país já é penta e continua tudo igual. De que adianta vencer todos os jogos por placares mínimos em jogos funestos para comemorar no final? Como sexo a maneira de nossos avôs: “Vamos fudendo ai véia que talvez a gente goze no fim!” Haaaa... vai toma no cú!!! Eu quero é show, chapéuzinho e caneta, gol de placa de bandido, nada de pagodinho e neguinho por ai travando o bloco a vibrar. E se perder, perdeu! Porque o país vai continuar o mesmo e Ronaldo nenhum voltará pro seu antigo endereço.

Trilha sonora para o jogo: Bezerra da Silva - Quando o morcego doar sangue

"Para tirar o Brasil desta baderna (2x)
só quando morcego doar sangue
e o saci cruzar as pernas"

 

:: Vinicius Aguiari, - 11:01 PM [+] ::

::  terça-feira, junho 20, 2006  ::

Hang on to your ego

Brian Wilson
faixa bônus do álbum Pet Sounds (1966) - segunda versão para a melodia de I know there´s a answer
Regravada por Frank Black em seu primeiro disco solo em 1993

Verse 1
-------
G# D# G#
I know so many people who think they can do it alone

G# D# G#
They oscillate their heads and stay in the city zone

B F# B
But what can ya tell them

F# F C#
What can ya say that will make them defensive?


Chorus
------
D# F D#
So, hang on to your ego.

F A# D#
Hang on, but I know that your gonna lose the fight

G# D# G#
They come home like they're peaceful, but inside their so uptight

G# D# G# B
They troop through their day and waste all their thoughts at night


Verse 2
-------
B F# B
But how can I say it

F# F C#
How can I come home when I know I'm guilty

D# F D#
So, hang on to your ego.

F A# D#
Hang on, but I know that your gonna lose the fight
 

:: Vinicius Aguiari, - 9:34 PM [+] ::

::  quinta-feira, junho 15, 2006  ::

Pergunte ao Cruise o que ele tem na cabeça?

cartaz do filme dirigido por Robet Towne e produzido por Tom CruiseSe Pergunte ao Pó estreou na sala de cinema mais próxima a você, ou caso ainda vá estrear, faça um favor a si mesmo e não veja o filme.

É incrível o que Robert Towne, que assina o roteiro e a direção, fez com o romance de John Fante. Quando o filme começa, até empolga com Arthuro Bandini se questionando o que fazer com sua última moeda de níquel, mas pára por ai. Collin Farrel não é nem ao longe o Arthuro das páginas de Fante, e se você possui o seu próprio Bandini, fique com ele.

Salma Hayek até se passa bem pela mexicana Camilla, mas o que o diretor fez da trama é um embuste todo adocicado. O casal passa grande parte do filme curtindo romance em uma casa de praia. Towne preferiu deixar de fora passagens memoráveis como quando Hellfrick leva Bandini para acompanhá-lo enquanto assassina um bezerro com o macaco do carro para saciar sua sede por carne. A cena do terremoto que destrói a cidade também é tão fraca perto do livro como se tivesse sido filmada em uma maquete de qualquer curso vagabundo de arquitetura. Os conflitos de Camila entre suas paixões por Bandini e Sammy, o barman, também foram descartados, assim como o comportamento esquizofrênico da moça.

Porém, o pior ainda está por vir, no final do filme diferente das páginas do livro. Um grande pastelão hollywoodiano mamão com açúcar. Leia o livro, não veja o filme.

Levei o livro uns cem metros para dentro da desolação, no rumo sudeste. Com toda minha força, joguei-o para o longe, na direção em que ele sumiria. Entrei no carro, dei a partida e rodei de volta para Los Angeles. - Pergunte ao Pó - John Fante - é assim que um grande romance termina.

 

:: Vinicius Aguiari, - 6:15 PM [+] ::

::  segunda-feira, junho 12, 2006  ::

São Paulo

A palavra favela tem origem no termo favos, relativo a colméia, favos que não se limitam somente aos morros



Em São Paulo, um câncer é só mais um câncer. Um desmaio em um bar domingo a noite é casual, e nada se mobiliza. Talvez a levem para casa e nem precisem forçar o sexo. Um carro atravessado no meio do canteiro da via expressa leva horas para ser retirado. Uma senhora de 59 anos irradia simpatia a um outro velho na fila do cinema, em mais uma tentativa de romance, porque não suporta mais a solitária companhia da sua TV e do concreto. Se concreto fizesse sexo, em São Paulo não existiria solidão. E os vôos, são tantos vôos em meio ao céu poluído, que é normal o nome de Arnaldo Antunes ser anunciado nos falantes da sala de espera do aeroporto, porque ele está atrasado para o embarque. Mas são tantos Arnaldos Antunes, pedreiros, operários, advogados, executivos, loucos e mendigos. Um lixão humano a céu aberto. Mas um depósito de lixo pode ser tão divertido como um parque de diversões na esperança do garimpo de um algum tesouro descartado. São Paulo passa logo e nem dá tempo de ficar cabisbaixo, porque senão, se acaba sufocado. Saia de casa e entre algum boteco com um balconista paraibano. Embriague-se e esqueça que o esgoto corre acima do solo e os carros trafegam em túneis, que o mundo é sujo e não há tempo para o belo ser aprazível. No fim, o dinheiro dita a medida da velocidade. Com um ou mil reais, se tem alguma opção. A diferença é o espaço físico proporcional ao valor do aluguel do seu apartamento.

 

:: Vinicius Aguiari, - 11:41 PM [+] ::

::  sábado, junho 03, 2006  ::

A copa, o mito e a sociologia

Há menos de uma semana para a abertura da copa do mundo, a seleção brasileira é disparada a favorita ao título. Algo tão megalomaníaco como há tempos não víamos, tamanha superioridade e falta de adversários a nível. Não que as outras seleções não possuam qualificação. Alemanha, Argentina e até França e Inglaterra possuem bons times, mas o fato é que o time do Brasil é muito superior a qualquer outro, são muitos craques. O Robinho, por exemplo seria titular em qualquer outra seleção do mundo, mas no time do Parreira, vai ter que se contentar em conhecer o gosto de participar da primeira copa, pelo menos ao início dos jogos, do banco de reservas.

Porém, este favoritismo todo pode ser um tiro pela culatra. Algo como aquele velho fantasma de 1982: "Aquele foi nosso melhor esquadrão e nada" - estes papos de tiozão que se recordam, porque em 82 eu não era nem nascido.

Mas uma coisa é quase certa: esta é a copa do Ronaldinho Gaúcho, uma das aquelas ocasiões em que o homem se transforma em mito.

Algo como o Pelé de 70, Pelé perseguido pelos zagueiros adversários no mundial de 70
o Maradona de 86
Maradona em uma imagem que fala por si só, O que é isto?
o Romário de 94
O baixinho naquela copa que alguém não queria levá-lo, mas o chamou as vésperas da quase não classificação e ele foi lá e ganhou sozinho

ou o Zidane em 98,
Zinedine no dia que ele mostrou ao mundo que os franceses não eram um bando de afeminados. Uma das vitórias mais devastadoras de todos os tempos.
O Ronaldo de 2002 eu deixo de fora, pelo menos por enquanto, até que alguém me prove o contrário. Neste mesmo ano, para quem se recorda o melhor jogador eleito do torneio foi um goleiro, Oliver Kahn, aquele mesmo do jogo da final, contra a seleção vice-campeã da Alemanha.

Por outro lado, existe o fator euforia do povo brasileiro. A paixão de mãos dadas com a burrice. Na minha singela opinião, não faria muita diferença se o Brasil trouxesse ou não o caneco. No ano da morte de Telê Santana, não me importaria se o fantasma de 82 retornasse, se saíssemos derrotados mas apresentando um belo espetáculo, como ensinava o mestre.

Do lado sociológico, se o futebol é ópio do povo e o paradigma mais adequado para explicar este país, o hexacampeonato provavelmente será como uma overdose de pão e circo. "Lambam todos a lama, somos hexa campeões" dirá subliminarmente algum deputado corrupto, ou "Nosso PIB ficou 15% abaixo da meta planejada no último ano, porém as causas não foram nenhum erro de planejamento econômico ou os juros, mas o fato que os brasileiros pararam de produzir para assistir aos jogos da seleção da copa no ano passado" dirá o futuro ministro da fazenda do governo reeleito.

Por isto que eu ainda, se fosse possível uma escolha, optaria pelo São Paulo tetra campeão mundial ao hexa da seleção. Por uma questão de princípios e modelos. Não que o tricolor tenha uma administração que seja um exemplo de ética, porém o dinheiro que ali é arrecadado, de alguma forma é bem administrado e revertido. É pão e circo? Não, são torradas e cinema, algo mais sofisticado como nos países desenvolvidos que respeitam a indústria do entretenimento. Não é a toa que o clube é o que mais cedeu jogadores entre os clubes brasileiros, e se caso considerar a convocação do Ricardinho como desnecessária e inútil, o São Paulo seria o único clube nacional a ter atletas entre o grupo da copa. Precisa dizer algo mais? Então vai: A seleção são 22 burros bem sucedidos comandado por um outro burro esperto enganando 170 milhões de brasileiros.

Trilha sonora para esperar pela copa: The Clash - Death or Glory

 

:: Vinicius Aguiari, - 12:23 PM [+] ::

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